sexta-feira, julho 30, 2010

Shaka Rock


Na década passada, muitas bandas surgiram. E cada uma, em seu ano inicial, marcou algo para o mundo da música: The Strokes em 2001 como a salvação do rock; os Arctic Monkeys como uma grande guinada para o indie rock; e o The Darkness como a volta do “metal” farofa. E lá em meados de 2003, a banda Jet lançava o seu primeiro álbum, “Get Born”. Cheio de hits e bons riffs de guitarra, bateria acelerada e baixo vibrante, o Jet mostrava ao mundo que a Austrália não vivia só de AC/DC (e canguru). “Are You Gonna Be My Girl” rodou mundo afora e “Look What You’ve Done” lembrava baladas a lá Beatles do meio da década de 60.
Três anos depois, “Shine On” chegava nas lojas e, por não apresentar hits ao nível das citadas em “Get Born”, o disco não emplacou nem em vendas, nem nas paradas musicais. Mas, atenção: isto não quer dizer que o disco seja descartável. Pelo contrário, deve ser tão apreciado quanto o primeiro: destaque para a faixa título e “Put Your Money Where Your Mouth Is”, onde os vocais lembram um Rolling Stones desajeitado (ou um The Darkness repaginado).
Mas eis que chegamos em 2009, onde o indie rock já é bastante divulgado, e as bandas que surgiram no começo da última década lutam por um espaço entre os novatos. E lutando, o Jet lança “Shaka Rock”. Bom, não é o momento mais inspirado dos australianos. E isso fica evidente em “Beat On Repeat” e “Start The Show”. A primeira mostra o alcance da influência do quarteto de Liverpool, onde em casos como este, soam altamente repetitivos e desgastantes, e a segunda, mostra um Jet agressivo, porém sem propósito. Mas não podemos descartar a presença de boas canções; “K.I.A” lembra um pouco de The Who, iniciando brilhantemente o Albúm; Black Hearts On Fire faz a linha hard rock bem aplaudida recentemente, analisando finoriamente a relação de um casal (I Know You Want Me But You Love Yourself Too Much); “She’s a Genius”, o 1º single, dificilmente será tão lembrada quanto “Are You Gonna...”, mas nem por isso deixa de ser uma faixa boa, com refrão pegajoso, riffs curtos na hora certa e uma introdução de baixo que seduz até aqueles que não curtem muito o instrumento (eu, por exemplo).
Os Beatles voltam em outro momento, só que mais inspirado, como em “Walk”, onde mostram um vocal calmo, no início, que se encoleriza no decorrer da faixa. A balada do álbum, “Seventeen”, está Dercy Gonçalves anos luz do sucesso da balada de “Look What You’ve Done”, e por vezes nos faz pensar que a banda tropeça feio nesta faixa, fazendo um som que poderia ou ter sido deixado de lado, ou simplesmente feito na estréia deles, onde não colocaríamos um fardo tão grande. Mas, apesar das boas faixas que este disco apresenta, carecem do nível das músicas dos outros álbuns, como as virtuosas “Cold Hard Bitch”, “Radio Song” e “Revolver DJ” (Get Born, 2003) e “Holiday” e “Eleanor” (Shine On, 2006). As grandes surpresas do álbum concentram-se em “Goodbye Hollywood”, uma bela faixa, que mistura berros e sussurros orquestrados satisfatoriamente, e “She Holds a Grudge”, que destoa de todo o disco, e apresenta uma sonoridade folk que pouco se vê nas bandas de hard rock atuais. Ainda assim, é pouco tanto para o álbum, quanto para a banda que poderia continuar a expandir o bom trajeto que vinha fazendo nos discos anteriores. Mas, em terra de AC\DC, pequenas toadas bisadas não fazem a menor diferença.

terça-feira, julho 27, 2010

Mother's Milk


Algumas vezes, os albúns que antecederam aqueles de maior sucesso do artista ou da banda são os que mais chamaram minha atenção. Aconteceu isso com “Off the Wal”,do Michael Jackson, que veio antes do super bem-sucedido “Thriller” e aconteceu isso também com “Mother’s Milk”, dos Red Hot Chilli Peppers, que antecedeu o famoso “Blood Sugar Sex Magik”. Tá certo que este último define melhor o estilo da banda, mas tenho certo apreço especial pelo “Leite da mãe”.Nele, o funk-rock característico dos pimentões está mais pesado em comparação ao “Blood Sugar Sex Magik” e isso fica bem evidente logo no começo com “Good Time Boys”.Em seguida, vem o ótimo cover de uma música do Stevie Wonder, “Higher Ground”,em uma versão deliciosamente mais densa e ao mesmo tempo tão envolvente quanto a versão original (outro cover presente no álbum é de “Fire”, do Jimi Hendrix, a qual está mais acelerada e que fica deixando a desejar). Na sequência, a faixa mais genial de todas,“Subway to Venus”, em razão do maravilhoso naipe de metais que toca nela, no qual o baixista Flea toca trompete, coisa que ele também irá fazer em “Taste The Pain" e "Pretty Little Ditty". Em “Nobody Weird Like Me” e “Punk Rock Classic” temos uma pegada mais punk, com o Flea fazendo ótimos slaps. Com “Knock Me Down”, o nível cai um pouco: esta última parece uma música do Jota Quest. Ela só se salva pelo refrão, pela letra interessante e pelo ótimo solo vocal da cantora Vicki Calhoun no final . Na sacana “Sexy Mexican Maid” temos um sensual solo de sax e em “Stone Cold Bush”, “Magic Johnson” e “Johnny, Kick a Hole in the Sky” podemos enxergar mais daquele peso que eu falei lá atrás. Conclusão: ouçam, vale a pena, pois, como disse o vocalista Anthony Kiedis, "o leite materno nutre e desintoxica. Quando você o bebe, você se sente bem e saudável. E isso é o que a gente quer que nossa música represente”. Precisas palavras.